NEYMAR SE LIVROU DA ANSIEDADE E O SANTOS FEZ UM BOM NEGÓCIO

O jogo Brasil e México em Fortaleza teve momentos de forte emoção. Primeiro, os torcedores chegaram ao estádio em meio às manifestações que tomam várias cidades do país; depois ignoraram o protocolo da FIFA  e cantaram a versão integral do Hino Nacional e não apenas os 90 segundos de praxe,  finalmente, vibraram e aplaudiram o estupendo gol de Neymar e a jogada dele que resultou no segundo tento ao final da partida.

Neymar está desencantando depois de um período de seca de gols e performances que deixavam a desejar. Aparentemente, tirou das costas a angústia sobre o seu futuro, que paralisava o seu talento nos últimos tempos. Angústia que esteve na raiz das negociações que o levaram a trocar o Santos pelo Barcelona.

Isso ficou claro, na noite de ontem, quando o Conselho Deliberativo do  Santos foi informado sobre os passos dessas negociações.

Ao procurar o pai do craque  para propor uma extensão do contrato com o clube até 2016, um dirigente do Santos  foi confrontado com a pergunta: “Vocês têm R$ 100 milhões para oferecer?”

Diante do óbvio não, Neymar pai colocou que desejava que seu filho fosse jogar fora do país depois da Copa das Confederações, pois Neymar Jr. estava convivendo com um ambiente muito desgastante no Brasil diante das pressões para que saísse do país e de ainda não ter brilhado na Seleção Brasileira.Na visão de Neymar pai, era importante que seu filho fosse jogar na Europa e criasse condições para ter uma grande performance na Copa de 2014. E o destino desejado pelos dois Neymares era o Barcelona. 

Isto posto, diante da vontade de sair manifestada por Neymar, até para o presidente Luís Álvaro, numa conversa “olho no olho”, o Santos abriu-se ao mercado. Depois de vários movimentos e lances de negociação, com pitadas de romance de suspense, o Santos acabou com duas propostas na mão, a do Barcelona e outra que ninguém admite oficialmente, mas foi do Real Madrid, através de um fundo de investimentos. Esta, muito mais generosa para o Santos e para Neymar. Mas os Neymares escolheram a do Barcelona, pois o sonho do craque seria jogar no time catalão.

Ao fim e ao cabo, o Santos, pela cessão dos direitos econômicos e federativos sobre Neymar recebeu 17,1 milhões de euros, dos quais destinará 40% ao grupo DIS e 5% à Teisa. Esta, diga-se de passagem, investiu quase 3,5 milhões de reais em Neymar e receberá agora, na venda, menos de 3 milhões – terá, portanto prejuízo.

Independentemente da cessão dos direitos sobre Neymar, o Santos negociou com o Barcelona a realização de dois jogos amistosos, que deverão render no mínimo 6,5 milhões de euros; um convênio de troca de experiências em torno das divisões de base dos dois clubes, que dará prioridade aos catalães na contratação de revelações santistas, desde que paguem, no mínimo, o mesmo que  ofertas de times concorrentes. Esse convênio deverá render 8 milhões de euros ao Santos.

No total, o Santos deverá receber 25 milhões de euros.

Há uma corrente minoritária, mas barulhenta, no Conselho que berra, sem argumentação consistente, se é que com alguma, que o Santos fez um mau negócio.  Baseia-se em análises impulsivas, raivosas, alimentadas por um espírito oposicionista por natureza. Oposicionismo por simples oposicionismo.

Eu acho que fez um bom negócio.  A conta que deve ser feita tem de considerar que a presença de Neymar no time possibilitou que o Santos aumentasse de R$ 75 milhões para R$ 200 milhões a sua arrecadação anual, por intermédio de elevação dos valores de  patrocínios e receitas de TV, tivesse um salto de 20% em sua torcida, especialmente entre as crianças, potencializando a sua torcida.  Some-se a isso os  25 milhões de euros agora amealhados e os seis campeonatos conquistados, 3 paulistas, 1 Recopa e 1 Libertadores, que não era conquistada há 45 anos.

Neymar foi empurrado para fora do país pelas precárias condições das competições e dos clubes nacionais; pela cegueira e pelo complexo de inferioridade de uma mídia esportiva que acha que jogador brasileiro bom tem que jogar na Europa e confunde seleção brasileira com  futebol brasileiro. E pelo fato dos demais clubes continuarem a vender seus craques para o exterior rapidamente – vide os casos de Lucas e Oscar. Ajudou, também,  o Santos não ter tido condições de montar um time forte em torno de Neymar especialmente depois que o futebol de Ganso declinou. 

Enfim, foi um belo sonho que todos nós santistas sonhamos, nos emocionamos com as belas conquistas  e nos orgulhamos – pelo menos eu me orgulho. Mas chegou ao fim, sequestrado pela realidade cruel do futebol brasileiro , depois de nos dar muitas alegrias.

A direção do Santos  agora está diante do desafio de dar início a um novo ciclo na vida do clube.

E espero que as lições dos muitos sucessos e dos vários erros do último ciclo nos propiciem uma nova fase de conquistas.

PS: Revi as imagens emocionantes da torcida brasileira cantando o hino nacional em Fortaleza, na abertura do jogo Brasil x México. Pena que a maioria dos jogadores da seleção, que também se emocionaram, não possam sentir o calor desse entusiasmo no dia a dia do seu futebol e nós não possamos vê-los com a camisa de nossos times do coração.