Na quarta-feira, 14, Luís Álvaro, ex-presidente do Santos, me telefonou
para contar, em primeira mão, segundo suas palavras, que havia renunciado ao
cargo.
Fez-me essa gentileza em homenagem ao fato de eu ter sido o primeiro
amigo a estimulá-lo a se candidatar à Presidência nas eleições do clube em
2003, semente da vitória que se concretizou no pleito de 2009.
Laor (abreviação que virou sua marca) renunciou premido pela fragilidade
de seu coração, que o afastou do cargo, em uma segunda licença temporária,
desde agosto de 2013. Coração que lhe causava problemas desde antes da primeira
candidatura. Pouco antes da eleição de 2003 teve quatro enfartes e resistiu a
todos ele bravamente. E, bravamente, disputou o pleito, quando qualquer outro
não se arriscaria.
Quando falamos ao telefone, eu lhe disse que como santista me orgulhava
imensamente de sua passagem pela presidência do alvinegro, mas como amigo não
sabia se fizera bem ao estimulá-lo a encarar a presidência do clube. Como
santista só tenho a comemorar todos os títulos conquistados e a ousadia de
segurar Neymar em nosso time por tanto tempo, resistindo a proposta milionária
do Chelsea da Inglatera. Como amigo, sinto-me desgostoso pelos problemas de
saúde que o exercício da presidência do Santos lhe causou.
Nas candidaturas de 2003 e 2009, Laor não se ofereceu para o cargo. Seu
nome surgiu, no grupo de oposição, como o que apresentava as melhores condições
para competir e vencer. Nas duas vezes, foi persuadido a se candidatar. A
reeleição de 2011, com 87% dos votos, foi a consagração natural de uma gestão
que levara o clube a conquistar, depois de 40 anos, a terceira Libertadores da
América. Antes, conquistara duas vezes o Campeonato Paulista e a Copa do
Brasil, esta pela primeira vez.
Houve avanços importantíssimos fora do campo, também, que lastrearam as
conquistas no gramado. Reportagem publicada por “O Estado de São Paulo”, em
10/5 passado, sob o título “Cresce a dívida dos paulistas” mostra que, quando
Laor assumiu, a dívida do Santos era de R$ 181,8 milhões e a receita de R$ 70,3
milhões. No final de 2011, ano da conquista da Libertadores, a dívida era de R$
207,6 milhões e a receita já batia nos R$ 189,1 milhões. Uma diferença que caiu
de R$111,5 milhões para R$ 18,5 milhões.
Apesar desses sucessos, a sua vida no comando do Santos e a de sua
diretoria, depois Comitê de Gestão, não foi fácil, nem isenta de tropeços e
dificuldades Toda frente política que chega ao poder, no caso a Resgate, agrega
pessoas com características e ambições pessoais e distintas e os conflitos são
inevitáveis e danosos à administração. Assim, não se concretizaram todas
as promessas de eficiência gerencial e de profissionalismo que a campanha
prometeu – da qual eu era um dos porta-vozes na condição de presidente da
Resgate em 2009.
A esse quadro, somou-se , a partir de 2012, a “Neymardependência” do
time, em função do desgaste da qualidade do restante da equipe, principalmente
após as seguidas contusões de Ganso. Cresceram, ao longo do ano, as discussões
sobre a conveniência da venda ou da permanência do nosso astro na equipe,
diante da possibilidade dele sair de graça após esta Copa do Mundo.
Neymar, cujo pai já havia se acertado com o Barcelona, acabou negociado com o
time catalão. A transação que, levando em conta todos os tipos de contratos
envolvidos, chegou perto do valor oferecido anteriormente pelo Chelsea, gerou
polêmica – apesar do Santos ter catapultado ao máximo os seus ganhos
financeiros.
As sucessivas licenças de Laor por motivos de saúde contribuíram para um
vácuo de poder no clube, agravado por conflitos no Comitê de Gestão e nas áreas
gerenciais, e criaram incertezas sobre os caminhos do alvinegro, que já havia
perdido o brilho em campo. Só após a licença de um ano do presidente, a partir
de agosto de 2013, houve uma redefinição de poderes e de métodos de gestão, que
estão atualmente em vigor sob a batuta de Odilio Rodrigues. Tantos solavancos,
contudo, prejudicaram a saúde financeira do clube: o faturamento caiu e o
endividamento aumentou.
Ao fim e ao cabo, Laor teve uma marcante passagem pela presidência do
Santos, sendo o segundo presidente que mais conquistou títulos, especialmente a
Libertadores. Acertou no atacado e errou, algumas vezes, no varejo. Com a sua
verve exuberante, deu uma visibilidade rara e diferenciada ao cargo. Infelizmente,
a corajosa iniciativa de segurar os jogadores talentosos no Brasil, caso de
Neymar, que fortaleceria o futebol no país, não foi seguida por nenhum outro
clube. Mas deu enormes alegrias a todos nós santistas.
Laor, meu caro, cuide bem de sua saúde a partir de agora.
Você merece.
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