COM NEYMAR FOMOS AO PARAÍSO E DESCEMOS AO INFERNO. É HORA DE RENOVAR

 Para começar, um pouco de história: em 1955, o Santos foi goleado por 8x0 pela Portuguesa de Desportos no Campeonato Paulista e no fim do ano sagrou-se campeão, conseguindo seu segundo título da competição, 20 anos depois do primeiro, conquistado em 1935, em cima do Corinthians, no Parque São Jorge.

Isto posto, é inescapável registrar como o futebol é uma ciranda. Pois o mesmo Neymar que nos deu tantas glórias, títulos e alegrias foi o epicentro desta lamentável página da história santista, vivida ontem por todos nós. Com Neymar fomos ao paraíso, com Neymar descemos aos infernos. Sim, infernos, pois já tínhamos descido ao primeiro na final do Mundial de 2011.

Com Neymar chegamos à glória sul-americana, com a  reconquista da Libertadores depois de 48 anos. Feito notável, que nos catapultou, segundo as palavras do próprio Neymar, para uma “aula de futebol” no Japão, na qual nada aprendemos.

A este segundo inferno fomos conduzidos pela “batata quente” Neymar. Por que “batata quente”? Porque não mais tínhamos um time à altura dele (desde que Ganso decaiu); porque a seleção nos roubava o craque dia sim dia não; porque se aproximava o dia em que ele poderia sair de graça do Santos.

Aí as vivandeiras se apresentaram com toda a sua estridência. Como deixar o garoto ir embora sem deixar nada para o clube? É a turma que quer levar vantagem em tudo, que quer que o prato continue cheio mesmo depois da refeição. Ignora que toda opção tem vantagens e desvantagens, ganhos e consequências.

 O Santos, para alegria de toda a torcida naquele momento, optou por manter Neymar para conquistar títulos, encantar seus admiradores. Com ele reconquistamos a Libertadores e a torcida foi ao paraíso. Aproximando-se a hora dele partir, nos termos do contrato que possibilitou sua permanência entre nós por quatro anos, instalou-se o inconformismo dos que querem desfrutar da noite e do dia ao mesmo tempo, do verso e do anverso, do inverno e do verão. Como deixar o menino sair de graça, sem deixar nada para o Santos? Esqueciam-se dos seis títulos, da multiplicação da torcida, do pulo do faturamento anual, etc, etc, etc...

Nosso Comitê de Gestão se deixou impregnar pela pressão. Ingenuamente, tentou prorrogar o contrato da Jóia, até numa tentativa de faturar algo se ele saísse mesmo em 2014. Digo ingenuamente porque já estava claro que Neymar estava insatisfeito por não ter um time à sua altura ao seu redor, pois o Santos não tinha recursos para investir nisso. E o pai da Jóia já estava mais do que mancomunado com o Barcelona, como indicava diariamente a imprensa espanhola, especialmente a da capital da Catalunha. Lembremos que a história da “reserva” de dez milhões de euros pelo Barcelona para a futura compra de Neymar continua muito mal explicada.

A partir daí o Comitê de Gestão entrou em uma corrida contra o relógio para evitar que no fim de 2013 Neymar assinasse um pré-contrato com o Barcelona e saísse mesmo de graça como seu contrato permitia. Fez uma negociação complexa com o clube catalão, com a preocupação de garantir o maior volume de recursos para o Santos e o menos possível para a DIS do grupo Sondas, que, vampirescamente, se beneficiava da valorização do passe de Neymar graças aos caraminguás que nele investiu no tempo das vacas magras do Marcelo Teixeira. No pacote, foram acertados os dois jogos amistosos que renderão ao Santos  4,5 milhões de euros, pagamento referente à segunda partida, caso ela se realize ou não. E lá se foi o time do Santos, uma mescla de promessas inexperientes e veteranos lentos, prestigiar, masoquisticamente,  a estréia de Neymar pelo Barcelona. Resultado: descemos ao inferno pela segunda vez. A derrota era certa, os 8x0 foram vexaminosos.

A lição que se pode tirar do episódio é que a direção de um clube não deve se guiar apenas por questões financeiras, mas também e principalmente pelas esportivas. Era assim que o Comitê de Gestão pensava, até se deixar impregnar pela gritaria das vivandeiras. Teria sido mais inteligente somar mais 4,5 milhões de euros aos 17,5 milhões pelo contrato de venda de Neymar  e repassar 40% (uns 6 milhões de reais) à DIS do que sofrer o vexame esportivo de ontem.

E já que descemos ao inferno, cabe sair dele com competência. Ao menos isso. Como o jogo em Barcelona marcou oficialmente o fim da era Neymar, devemos entrar renovados na nova era, apostando no futuro

O Comitê de Gestão deve dar todo o respaldo para o técnico Claudinei fazer as modificações que julgar necessárias no time, coloque os meninos em campo no lugar de veteranos que já não têm a mesma eficiência do passado em função da idade. A renovação, especialmente da defesa, é necessária.

É hora da coragem.