Com Laor, os
santistas viveram um belo sonho.
Sei que, à
essa altura dos acontecimentos, muitos julgarão essa frase ingênua. Mas, se há
algo que não sou é ingênuo, até por formação profissional.
Jornalista
tem que ser capaz de enxergar e entender todos os detalhes de um fato. No caso
de Laor, me manifesto também como amigo e um dos patrocinadores de suas candidaturas
em 2003 e 2009.
Assim,
repito: com Laor, os santistas viveram um belo sonho.
Laor chegou
à Presidência do clube como representante de um grupo de santistas e governou,
até agora, em consenso com os seus pares que participaram, no primeiro mandato,
do Guia e da diretoria e, no segundo mandato, do Comitê de Gestão.
Os bons e os
maus resultados do Santos entre dezembro de 2009 e hoje devem ser atribuídos a ele
e a todos essa pares, a cada um de acordo com seu peso na tomada de decisões.
Como
presidente, Laor foi a face pública dessa administração até agora. Foi também o
grande catalisador das ideias que fizeram com que o Santos ousasse quebrar os
paradigmas até então vigentes no futebol brasileiro e mantivesse Neymar no
time, transformando-o no mais importante jogador da história do clube nos
últimos tempos. E nos conduzisse de volta ao título da Copa Libertadores,
depois de 48 anos longe dela.
E isso foi
muita, muita coisa mesmo. Ou algum santista renega esse título? E os demais que
foram conquistados? Laor é o segundo presidente com mais títulos conquistados
na história do Santos, depois de Athié Jorge Coury, que ficou na presidência
por 25 anos, 18 deles tendo Pelé no time. É pouca coisa? E sejamos justos ao
dividir os louros, são conquistas de toda a direção do Santos que estava junto
com Laor.
Não vou
repetir aqui que, nesse período, a receita anual do clube subiu de R$ 70
milhões para quase R$ 200 milhões, que o número de sócios multiplicou-se para
50 mil , a cota de TV subiu. Não se deve esquecer o esforço mensal para pagar a
dívida de R$ 30 milhões do Santos para com o ex-presidente Marcelo Teixeira.
Houve erros
nesse trajeto? Houve sim. Em várias áreas, uns por arrogância, outros por incompetência,
outros por inexperiência. Vários quadros ganharam cargos, assalariados ou não, simplesmente
por estarem dentro da frente eleitoral. A administração do futebol demorou a
ganhar eficiência e ainda precisa se consolidar. Laor nem sempre fez as
escolhas certas. Nem seus pares.
O balanço da
gestão mostra um copo mais cheio ou mais vazio? Para mim, bem mais cheio e há vazios
a preencher.
Na penúltima
reunião do Conselho Deliberativo, subi à tribuna no final da sessão, já
bastante esvaziada de público, para dizer que a frente política que elegeu Laor
e seus pares havia se dividido por interesses contrariados – interesses de
ganhar dinheiro no clube, de ter projeção social via o clube, de usar o clube
para fazer política, etc... E que essa divisão, que já vinha de algum tempo, agravada
por mudanças e demissões dos quadros do clube, estava prejudicando a
administração e era parte da disputa eleitoral de 2014.
Some-se a
esse quadro, uma oposição sempre deletéria, irresponsável, que acha que as
decisões dentro de um clube de futebol se tornam realidade com um estalar de
dedos, que acha que tudo é fácil, que, por vocação, começa a chamar qualquer
diretoria do clube de incompetente no seu segundo dia de mandato, pois essa é a
sua razão de ser. Não são poucos e nada fazem, nunca fizeram para construir, só
para destruir. E querem que o time seja campeão todos os meses.
Às vésperas
das eleições em 2003, a primeira em que concorreu, Laor teve quatro ataques
cardíacos, bravamente enfrentou o pleito
e teve 40% dos votos, semeando a vitória de 2009. Pois a
natureza foi cruel com ele, fragilizando a sua saúde a partir do fim do ano
passado, prejudicando sua atuação no clube, num momento importante de redefinições
e reorganizações, troca de quadros. O competente, dedicado e leal vice-presidente Odílio Rodrigues
passou a comandar o clube. Dentro do quadro cinzento reinante, foi inevitável
instalar-se a sensação de vácuo de poder.
A venda de
Neymar, cujos termos apoiei e o
resultado do jogo contra o Barcelona (uma decisão temerária) incendiaram um
ambiente em que a proposta de impeachment já medrava. Nesse quadro, apesar da
vontade de Laor de reassumir o clube depois do acidente que afastou o vice
Odilio, ficou claro que as suas condições de saúde dificultariam a eficiência
de seu comando e a governabilidade do clube – principalmente depois do
afastamento, alguns propostos por ele, de membros do Comitê de Gestão.
O que
realmente contou para a decisão de se licenciar por parte de Laor foram as
conversas com vários conselheiros e pessoas próximas a ele. Mostraram-lhe que seu
maior desafio, no momento, é cuidar bem da saúde, o que não conseguiria exercendo
a presidência do clube em um momento tão conturbado, que exigiria muito dele. O impeachment, apesar das
97 assinaturas, jamais seria aprovado pelo Conselho. Seus irresponsáveis
proponentes se vangloriam de um peso que não tiveram na decisão.
Além dos
fatores que já apontei, os obstáculos externos também dificultaram a realização
de boa parte dos projetos de Laor e seus pares. Só vou citar um: apesar do
esforço do Santos para manter Neymar, os clubes brasileiros continuaram a
vender com rapidez seus craques para o exterior (exemplos de Lucas e Oscar e agora
Bernard) o que impede o fortalecimento do futebol brasileiro. Mas isso fica
para outro comentário.
A bola agora
está com Odílio Rodrigues, o vice-presidente, que neste momento dirigirá o
clube de casa, em função de sua recuperação das operações a que teve que
submeter-se nos joelhos, depois da queda que sofreu. Tem pela frente, também, a
tarefa de recompor o Comitê de Gestão e aprovar os nomes no Conselho
Deliberativo. Isso, na administração. No futebol, o desafio será construir um
bom time após a era Neymar.
O que eu e
muitos santistas querem é voltar a viver o sonho que vivemos com Laor.
Não será
fácil, mas é possível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário