O Santista Roberto Kenji Deguchi enviou-me a seguinte mensagem:
“Eu acompanho seus comentários sobre o
nosso SANTOS FC desde o blog do "santistaroxo". Gostaria de um
comentário seu sobre a atual situação do nosso clube e sua posição sobre a
conturbada gestão passada que no início você apoiou.”
Eu respondi, de imediato, que estava
sedimentando o que dizer. Vou tentar agora:
Peço licença à revista Exame que publicou uma matéria muito interessante
sobre a atual situação econômica do Santos. Aqui vai:
“Em 2013, o Santos vendeu Neymar, o maior
jogador brasileiro dos últimos anos, ao Barcelona. Nos quatro
anos anteriores, graças a Neymar e a um intenso investimento em marketing, o
clube havia quase triplicado seu faturamento anual, de 70 milhões para 198
milhões de reais. Com uma nova leva de torcedores e muito dinheiro em caixa, as
perspectivas eram animadoras.
No início de 2015, com quatro meses de salários
atrasados, o Santos perdeu alguns de seus principais jogadores, como o
centroavante Leandro Damião, agora no Cruzeiro. Outros, como o volante Arouca,
lutam na justiça para deixar o clube. Sem dinheiro para grandes contratações, o
clube se dedica, neste início de ano, a contratar veteranos como o meia Elano,
que estava na Índia.
A pergunta que os torcedores e adversários se fazem
é: como a situação do Santos pode ter mudado tanto em menos de 24 meses? A
explicação, segundo estudo inédito do consultor Amir Somoggi, está no mais
absoluto descontrole dos gastos. Assim como 90% dos clubes de futebol no
Brasil, o Santos correu para gastar rapidamente o dinheiro extra que entrou com
Neymar.
O custo com o departamento de futebol passou de 68
milhões de reais, em 2009, para 168 milhões de reais em 2013. No período, o
clube conquistou título importantes, como a Libertadores da América, mas viu a
dívida passar de 181 milhões de reais para 297 milhões - até a metade de 2014,
havia subido mais um tanto, para 346 milhões.
A mesma ciclotimia já havia sido observada na
chamada era Robinho, entre 2002 e 2005, quando o faturamento quintuplicou para
136 milhões de reais. Em 2006, já sem Robinho, a receita despencou para 55
milhões de reais, enquanto os custos com futebol chegaram a um recorde de 70
milhões de reais.
"É um exemplo acabado de como os clubes
brasileiros não se planejam para o longo prazo. Os custos sobem junto com a
receita", diz Somoggi. "O problema é que, quando os craques saem, o
custo se mantém".
Para o consultor, 2015 será decisivo não só para o
Santos, como para os principais clubes de futebol do país. A receita de clubes
como Palmeiras e Corinthians tende a crescer com os novos estádios. Só o
Palmeiras deve arrecadar 70 milhões de reais com a nova Arena. O risco é que os
custos cresçam mais do que isso. Entre o final de 2014 e o início de 2015, o
Palmeiras já anunciou 15 contratações. É torcer para a conta fechar.
O faturamento anual do Santos (em milhões de reais):
|
Ano
|
Valor
|
|
2003
|
33
|
|
2004
|
70
|
|
2005
|
136 (último ano da era Robinho)
|
|
2006
|
55
|
|
2007
|
53
|
|
2008
|
65
|
|
2009
|
70
|
|
2010
|
117
|
|
2011
|
189
|
|
2012
|
198 (último ano da era Neymar)
|
|
2013
|
190
|
|
2014 (primeiro semestre)
|
97
|
Fonte: Amir Somoggi”
A tabela ilustra claramente a opinião defendida por Somoggi , com a qual
concordo plenamente.
Somo a essa explicação um trecho do recente texto divulgado por Pedro
Luiz Nunes Conceição ex-diretor de futebol do Santos e ex-membro do Conselho de
Gestão na gestão anterior:
“...participei
em 3,5 anos do total de 5 anos da gestão e entendo que o que intensificou
a crise financeira, foi o clube não estar preparado para a saída do
Neymar. O marketing era muito (ou todo) concentrado no atleta, tanto que o
clube ficou 2 anos sem o patrocínio máster, deixando de receber no período
algo em torno de R$ 36 milhões.
Além disso, a crise econômica no país, o advento da Copa do Mundo desde 2013 (com a realização da Copa das Confederações), tudo isto mexeu com o mercado publicitário e o Santos foi um dos primeiros clubes a sentir a dificuldade em renovar o patrocínio máster (seguiram-se na ordem Palmeiras, São Paulo e mais recentemente o Corinthians). Isto impactou diretamente no fluxo de caixa, a gestão não podia deixar de reforçar o time , recorreu ao mercado financeiro, a investidores, à antecipação de cotas, formando, assim, um circulo vicioso”.
Além disso, a crise econômica no país, o advento da Copa do Mundo desde 2013 (com a realização da Copa das Confederações), tudo isto mexeu com o mercado publicitário e o Santos foi um dos primeiros clubes a sentir a dificuldade em renovar o patrocínio máster (seguiram-se na ordem Palmeiras, São Paulo e mais recentemente o Corinthians). Isto impactou diretamente no fluxo de caixa, a gestão não podia deixar de reforçar o time , recorreu ao mercado financeiro, a investidores, à antecipação de cotas, formando, assim, um circulo vicioso”.
Eu acrescento a essas duas explicações que se
complementam as disputas políticas que caracterizaram a gestão anterior. Como
já escrevi várias vezes neste blog, a chapa que ganhou as eleições em 2009, “O
Santos pode mais”, era uma frente contra a administração de Marcelo Teixeira.
Havia um discurso comum, de modernidade, austeridade e investimentos, mas várias correntes dentro da frente tinham objetivos próprios,
muitos pessoais, e a direção do clube foi loteada. Num segundo momento, a
criação do Comitê de Gestão e a instalação das Superintendências tornaram a
administração do clube mais confusa e conturbada, exacerbando atritos e
disputas internas. Nem a racionalidade financeira dos empresários do GUIA,
inicialmente, e do Comitê de Gestão, posteriormente, evitaram o acúmulo de
problemas.
A doença e os afastamentos de Luís Álvaro de
Oliveira Ribeiro, que já vinha tomando decisões questionáveis, adicionaram mais
instabilidade ao processo. Por fim, o último Comitê de Gestão, que nasceu da crise
de tentativa do impeachment de Laor por parte de correntes do Conselho
Deliberativo, herdou um clube com a credibilidade abalada, fragilidade
financeira e um time cheio de problemas.
Enquanto Neymar e, coadjuvando, Ganso mantiveram
o encanto do “Cirque de Soleil”, e conquistaram títulos e mais títulos, esse
processo foi escamoteado, escondido. Quando acabou, veio à tona. E a negociação
de Neymar foi um ponto polêmico, crítico e turbinador desse processo.
Grosso modo, foi isso o que aconteceu do meu
ponto de vista. Depois de um período de alegrias e mais alegrias dentro de
campo com muitos títulos, especialmente a Libertadores, o final da gestão foi
frustrante e triste, especialmente por possibilitar a volta do grupo de Marcelo
Teixeira ao poder no clube.
Quanto ao que Modesto Roma está fazendo no momento,
para mim o quadro é desanimador e preocupante. Não estou otimista. Os desafios
ao futuro do Santos são enormes e perdeu-se uma grande oportunidade de enfrentá-los
com competência.
Mas prefiro esperar para me manifestar.
Não sei se respondi ao Roberto Deguchi, mas fica
aí a tentativa.
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