Santos FC

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sábado, 17 de janeiro de 2015

Um final de gestão frustrante e triste, minha resposta ao santista Roberto Deguchi

 O Santista Roberto Kenji Deguchi  enviou-me a seguinte mensagem:

“Eu acompanho seus comentários sobre o nosso SANTOS FC desde o blog do "santistaroxo". Gostaria de um comentário seu sobre a atual situação do nosso clube e sua posição sobre a conturbada gestão passada que no início você apoiou.”

Eu respondi, de imediato, que estava sedimentando o que dizer. Vou tentar agora:

Peço licença à revista Exame que publicou uma matéria muito interessante sobre a atual situação econômica do Santos. Aqui vai:
“Em 2013, o Santos vendeu Neymar, o maior jogador brasileiro dos últimos anos, ao Barcelona. Nos quatro anos anteriores, graças a Neymar e a um intenso investimento em marketing, o clube havia quase triplicado seu faturamento anual, de 70 milhões para 198 milhões de reais. Com uma nova leva de torcedores e muito dinheiro em caixa, as perspectivas eram animadoras.
No início de 2015, com quatro meses de salários atrasados, o Santos perdeu alguns de seus principais jogadores, como o centroavante Leandro Damião, agora no Cruzeiro. Outros, como o volante Arouca, lutam na justiça para deixar o clube. Sem dinheiro para grandes contratações, o clube se dedica, neste início de ano, a contratar veteranos como o meia Elano, que estava na Índia.
A pergunta que os torcedores e adversários se fazem é: como a situação do Santos pode ter mudado tanto em menos de 24 meses? A explicação, segundo estudo inédito do consultor Amir Somoggi, está no mais absoluto descontrole dos gastos. Assim como 90% dos clubes de futebol no Brasil, o Santos correu para gastar rapidamente o dinheiro extra que entrou com Neymar.
O custo com o departamento de futebol passou de 68 milhões de reais, em 2009, para 168 milhões de reais em 2013. No período, o clube conquistou título importantes, como a Libertadores da América, mas viu a dívida passar de 181 milhões de reais para 297 milhões - até a metade de 2014, havia subido mais um tanto, para 346 milhões.
A mesma ciclotimia já havia sido observada na chamada era Robinho, entre 2002 e 2005, quando o faturamento quintuplicou para 136 milhões de reais. Em 2006, já sem Robinho, a receita despencou para 55 milhões de reais, enquanto os custos com futebol chegaram a um recorde de 70 milhões de reais.
"É um exemplo acabado de como os clubes brasileiros não se planejam para o longo prazo. Os custos sobem junto com a receita", diz Somoggi. "O problema é que, quando os craques saem, o custo se mantém".
Para o consultor, 2015 será decisivo não só para o Santos, como para os principais clubes de futebol do país. A receita de clubes como Palmeiras e Corinthians tende a crescer com os novos estádios. Só o Palmeiras deve arrecadar 70 milhões de reais com a nova Arena. O risco é que os custos cresçam mais do que isso. Entre o final de 2014 e o início de 2015, o Palmeiras já anunciou 15 contratações. É torcer para a conta fechar. 

O faturamento anual do Santos (em milhões de reais):
Ano
Valor
2003
33
2004
70
2005
136 (último ano da era Robinho)
2006
55
2007
53
2008
65
2009
70
2010
117
2011
189
2012
198 (último ano da era Neymar)
2013
190
2014 (primeiro semestre)
97
Fonte: Amir Somoggi”

A tabela ilustra claramente a opinião defendida por Somoggi , com a qual concordo plenamente.

Somo a essa explicação um trecho do recente texto divulgado por Pedro Luiz Nunes Conceição ex-diretor de futebol do Santos e ex-membro do Conselho de Gestão na gestão anterior:

 “...participei em 3,5 anos do total de 5 anos da gestão e entendo que o que intensificou a crise financeira, foi o clube não estar preparado para a saída do Neymar. O marketing era muito (ou todo) concentrado no atleta, tanto que o clube ficou 2 anos sem o patrocínio máster, deixando de receber no período algo em torno de R$ 36 milhões. 

Além disso, a crise econômica no país, o advento da Copa do Mundo desde 2013 (com a realização da Copa das Confederações), tudo isto mexeu com o mercado publicitário e o Santos foi um dos primeiros clubes a sentir a dificuldade em renovar o patrocínio máster (seguiram-se na ordem Palmeiras, São Paulo e mais recentemente o Corinthians). Isto impactou  diretamente no  fluxo de caixa, a gestão não podia deixar de reforçar o time , recorreu ao mercado financeiro, a investidores, à antecipação de cotas, formando, assim, um circulo vicioso”.

Eu acrescento a essas duas explicações que se complementam as disputas políticas que caracterizaram a gestão anterior. Como já escrevi várias vezes neste blog, a chapa que ganhou as eleições em 2009, “O Santos pode mais”, era uma frente contra a administração de Marcelo Teixeira.

Havia um discurso comum, de modernidade, austeridade e investimentos, mas várias correntes dentro da frente tinham objetivos próprios, muitos pessoais, e a direção do clube foi loteada. Num segundo momento, a criação do Comitê de Gestão e a instalação das Superintendências tornaram a administração do clube mais confusa e conturbada, exacerbando atritos e disputas internas. Nem a racionalidade financeira dos empresários do GUIA, inicialmente, e do Comitê de Gestão, posteriormente, evitaram o acúmulo de problemas.

A doença e os afastamentos de Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, que já vinha tomando decisões questionáveis, adicionaram mais instabilidade ao processo. Por fim, o último Comitê de Gestão, que nasceu da crise de tentativa do impeachment de Laor por parte de correntes do Conselho Deliberativo, herdou um clube com a credibilidade abalada, fragilidade financeira e um time cheio de problemas.

Enquanto Neymar e, coadjuvando, Ganso mantiveram o encanto do “Cirque de Soleil”, e conquistaram títulos e mais títulos, esse processo foi escamoteado, escondido. Quando acabou, veio à tona. E a negociação de Neymar foi um ponto polêmico, crítico e turbinador desse processo.

Grosso modo, foi isso o que aconteceu do meu ponto de vista. Depois de um período de alegrias e mais alegrias dentro de campo com muitos títulos, especialmente a Libertadores, o final da gestão foi frustrante e triste, especialmente por possibilitar a volta do grupo de Marcelo Teixeira ao poder no clube.

Quanto ao que Modesto Roma está fazendo no momento, para mim o quadro é desanimador e preocupante. Não estou otimista. Os desafios ao futuro do Santos são enormes e perdeu-se uma grande oportunidade de enfrentá-los com competência.

Mas prefiro esperar para me manifestar.


Não sei se respondi ao Roberto Deguchi, mas fica aí a tentativa.

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